domingo, 26 de dezembro de 2010

Visões de um Corpo Sem Alma

Não tem muito o que dizer, é um conto pequeno, só garanto que é um cara que vende a alma por uma boa história.
 Michael encarava a máquina de escrever esperando brotar um best seller da sua mente. Tinha acabado de acabar o colégio, mas não conseguira passar no vestibular para Medicina onde investira tanto esforço, então chegou à conclusão que melhor que se esforçar tanto era tentar escrever algo, devia ser bom nisso já que sempre devorou livros por sua infância e adolescência passando por todo tipo de escritor, com menção honrosa na estante empoeirada para Stephen King, H.P. Lovercraft, André Vianco, Anne Rice e Edgar Allan Poe, sem dúvidas um tanto quanto um caminho sombrio, mas era o que ele queria escrever: terror – e, quem sabe, um dia tomar chá com Stephen King e jogar conversa fora enquanto ele ficava mais rico com seu grande best seller que deveria estar sendo escrito agora.
 Ouviu em algum lugar que escrever numa boa máquina de escrever era uma sensação mil vezes que escrever no computador, então emprestou do avô uma Olivetti Valentine de  1969 que um dia já foi utilizada exatamente para o mesmo propósito pelo idoso que falhara e acabara se tornando professor.
 Horas e horas parado olhando a folha branca colocada na máquina de escrever que ainda sequer tinha sido teclada por Michael.
 Sonolento, nosso protagonista deu um último suspiro que era para ser um: “Eu vendo minha alma por uma boa idéia” então caiu em sono profundo.
 Uma visão que parecia ser o inferno foi seu tema para o pesadelo daquela noite: pessoas decompostas com armas atiravam aos montes naquelas que pareciam ainda serem normais, mas que, porém, ao serem pegas pelos tiros cuspidos incessantemente pelas armas de fogo dos zumbis se juntavam a eles em sua encruzilhada de morte.
 Uma visão menos precisa do assunto poderia se tratar de uma boba e ultrapassada invasão de zumbis, mas não era simplesmente isso e tal ficou bem claro ao passar dos flashes. Trens pegando fogo, vindos diretamente do centro da terra e trazendo mais mortos decompostos bem armados deixavam isso bem claro, era o apocalipse feito em todas as suas modernidades, não só em tecnologia, mas em desastres naturais, principalmente as comuns tsunamis de cheiro putrefato que traziam restos normais das mais diversas espécies.
Acordou, animado e inspirado, totalmente lúcido dos sonhos, porém, esquecera do murmúrio dito antes de apagar na cadeira.
Embalado pelo ritmo da idéia, torcendo para lembrar-se dela lucidamente em todos os seus detalhes resistiu a dor de mau jeito por ter passado a noite onde passou e escreveu tudo num baque só, 256 páginas que se criaram sozinhas praticamente.
 Mandou a épica e original história para a melhor editora que conseguiu encontrar, pediu para o pai mexer uns pauzinhos com alguns escritores da editora, e, convencido que a história estava boa o suficiente para ser aceita, relaxou por uma semana com um ego inflado e sem nenhuma desconfiança do que fez para escrever tal obra.
 Uma carta confirmou suas expectativas um mês depois do envio.
 A história foi bem aceita pela crítica, era vista visionária, quase como se ele tivesse visto o futuro, sem falar das referências bíblicas exatas e bem exploradas – o que era impressionante para quem nunca tinha sequer tocado numa Bíblia – e que acabou se tornando uma moda entre os jovens – um bônus para ele.

 Porém, alguns anos depois – dois ou três, dependendo do ponto de vista – ele ligou sua novíssima TV 3D em mais um dia comum em sua nova vida para ver o noticiário.

 Ele que estava isolado em sua fazenda não vira o que acontecia no mundo, até agora:

 Exatamente o que vira nos sonhos, os mesmos trens que brotavam da terra, os mesmos corpos decompostos, tudo, então se lembrou do havia dito antes do sonho milagroso e viu que algum ser que mandava esses trens havia lhe concedido o pedido, porém não dera nenhuma história fictícia e sim algo bem pior, o nosso futuro, pois mente alguma poderia imaginar, ou ao menos admitir, o que acontecia nesse instante.

Fim

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