domingo, 26 de dezembro de 2010

Um Natal "Americanizado"

Um retrato diferente do Natal
 Luís aguardava ansioso o natal. Brasileiro, sonhava em seguir os costumes americanos: o de ter neve, o dos biscoitos, da meia com balas, de acordar no dia 25 com os presentes lhe aguardando com embalagens coloridas e fitas vermelhas.
 Agora estávamos na noite do dia 24, todos os parentes começavam a chegar com caixas, em sacolas ou debaixo do braço, que logo seriam colocadas debaixo da árvore e que, infelizmente, guardavam meias, cuecas e afins, claro: “não é o que você quer, é o que você precisa, menino”, como diria sua mãe que dava as sugestões do que comprar para os parentes. Podem entender o porquê de ele esperar um presente do Papai Noel? Sua mãe não tinha o telefone dele para encher o ouvido dele de porcarias sobre roupas de baixo.
 Se você que estiver lendo isso tiver mais de seis anos deve entender a frustração dele: o velhinho balofo nunca visitara a sua casa, porém ele tinha até uma chaminé, de tamanho considerável, onde ele poderia passar com um pouco de seu pó mágico para lhe entregar algum presente decente depois de todos esses anos.
Esse ano ele tinha um plano – se falhasse sempre tem a páscoa – onde ele seguiria a risca os costumes americanos, incluindo leite e biscoitos, ignorando toda a adaptação brasileira do negócio, porém, ele teria que despistar os pais, antagonistas de toda a trama de um filme de natal digno de Sessão da Tarde ou aquelas sessões de filmes na TV aberta que passam de madrugada, ficaria acordado para garantir que tudo corresse como o planejado.
 Aquela tia chata que era mais tradicional em festa de natal que o próprio Papai Noel soube da história pela boca da mãe fofoqueira de Luís, então tentou usar de toda a influência restante que um adulto tinha na opinião de um menino de sete anos, outro clichê dessas tradições.
 – O Papai Noel come criancinhas, se fosse você se contentava com o presente diferente que a tia comprou esse ano – disse ela, mentindo, era a mesma meia de todo ano, Ben 10 era o desenho da meia dessa vez.
 Ele ignorou, deu um sorriso amarelo e foi brincar com sua prima de um ano a menos e seu irmão de três anos alguma brincadeira boba, de regras feitas na hora, apenas para passar o tempo.
 Depois da janta, aquelas carnes que apenas são vendidas no Natal e que são extremamente ruins, coca-cola e um pouco de vinho que seu tio lhe tinha dado escondido, chegara a hora de abrir os presentes, com sua prima e irmão correndo apressadamente e os adultos sentaram, esperando o papai Noel, seu primo de segundo grau gordo que não sabia nem disfarçar a voz, mas que os adultos fingiam acreditar e as crianças, apesar das desconfianças, acreditavam piamente.
 Mas se Luís queria realmente que tudo desse certo, tinha que resistir a tentação, então fingiu sono e foi direto ao seu quarto, depois de passar pelo campo de guerra que era o sofá onde suas tias viam a novela das oito – que é transmitida às nove horas –, sobreviveu com a cara manchada de marcas de batom das mais diversas cores.
 Certificado que as meias estavam ali e que ninguém tinha tomado os biscoitos e leite que ele tinha avisado dezenas de vezes na ceia para não serem comidos, ele subiu até o quarto dormir um pouco para ter energias para esperar o Papai Noel.
 Quando bateram 23 horas no carrilhão do corredor ao lado do quarto acordou com disposição esperar o bom velhinho.
 Esperou por horas a fio e nada aconteceu. Escondido atrás do sofá desconfiava se ele não sabia que Luís o aguardava ali.
 Meia noite os pais tentaram o enganar, indo com passos silenciosos até lá para comer os biscoitos e deixar algum presente tentando comprar ele ou simplesmente enganá-lo, mas como ele já esperava tal atitude traiçoeira, de prontidão mandou voltar a dormir em sinais. O pai, de muito bom humor deixou o filho continuar sua fantasia até cair no sono de tanto esperar.
 Seu pai se enganara.
 Às 3 da manhã conforme o relógio digital do garoto – que, por coincidência ou não, era a hora dos mortos – ele ouviu barulhos vindos do teto, principalmente urros do que pareciam ser cavalos, ou melhor renas!
 Sim, o Papai Noel não entalou, mas não porque ele usou o pó mágico como imaginara o menino, mas porque ele era uma caveira, ele era um morto que retornara – ou você achou que alguém realmente sobreviveria a todos esses séculos?
 Infelizmente, enquanto ele pegava os biscoitos, provavelmente para dar as renas, já que não tinha estomago, ele pegou o menino bisbilhotando e, por um chute muito certeiro, a tia estava certa, assim que o Papai Noel o viu o raptou, mas não o comeu, o colocou no saco. Desesperado, nosso protagonista desmaiou.
 Quando acordou, não sabendo quanto tempo havia se passado ele não mais estava em sua casa, mas num beliche, sendo obrigado por um homem oriental muito mal encarado a ir trabalhar. Tinha sido vendido pela caveira para a fábrica da Nike.
 Às vezes é bom seguir a tradição brasileira e não a americana, não concordam?
Fim

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