terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Pós-Morte de um Suicida

Tragetória de um suicida desde o momento do ato do suicidio ate a vivencia no inferno, passando por locais como os diversos planos da morte, como a cidade do segundo plano, o tribunal do Rei Minos (tal parte baseada no classico a Divina Comedia) entre outros lugares e, ao mesmo tempo, lembrando dos momentos que procederam sua morte, seus motivos e conhecendo cada vez mais afundo o outro lado da vida, aquele que ninguem jamais voltou para falar, aquele que chamamos de morte.
Desculpem-me o título, o conto tomou um rumo que não esperava, mas ainda sim eu achei o título apropriado
Dor, dor, pulsando cada vez mais forte meu coração, como uma bomba, irá explodir.
QUANTA DOR!
Extrema, horrível, a pior dor que já fora sentida no mundo, talvez.
Piedade! Que dor horrível! Nunca devia ter passado aquela faca na minha garganta. O que era aquela vadia da Luciana perto dessa dor?!
Acabou?
De repente aquela dor sumira, mas não só ela, tudo ao meu redor, o mundo que um dia, para mim, fora o de você leitor, agora, no momento, era a completa escuridão no vazio, porém eu ainda conseguia me enxergar como se estivesse num ambiente totalmente iluminado, além disso, sentia estar caindo, mas não podia confirmar minha certeza graças ao lugar onde estava.
FLASH!
Em uma rápida de cenário não sentia mais que estava caindo, assim que tateei o chão com a minha bunda, mas, sem nenhuma dor, era estranho, eu devia estar delirando inconsciente.
Era uma praça como aquelas que imaginamos serem as da Roma e Grécia antiga, só que não deterioradas pelo tempo, mas sim como se acabassem de serem construídas.
Melhor que isso, as ruas eram de ouro, os banco de mármore e as pessoas, todas extremamente bonitas, andavam com togas brancas impecáveis e cabelos brilhantes.
Todas as etnias, todos os sexos, todas as idades, todos desfilavam no que era o lugar mais lindo que já tinha visto e com as pessoas mais lindas também, senti-me até envergonhado por ser quem eu era.
Levantei em tropeços, fui até um vidro e vi que, em meu reflexo, incrivelmente, eu não era eu, não mais uma jaqueta vermelha, um boné roxo e uma calça jeans, mas sim uma toga – não branca como a dos outros, mas sim vermelha.
Além estava minha face, como dizia na Bíblia recebi outro corpo, outra face, agora eu era o que podia se chamar de belo, meu cabelo crespo, loiro e mal penteado fora substituído por cachos ruivos perfeitos com um leve caimento para baixos, sem falar do meu rosto branco, porém sardento agora tinha perdido as indesejadas pintas e meus olhos, antes opacos de tão pretos agora tinham um tom agradável de verde.
Como em um contraste a tudo me apresentado até agora, cinco figuras sinistras de pele roxa e armaduras cinza. Uma mistura usual de monstro com soldado, comum de se ver em vídeo games e na TV, mas estranhamente assustador de perto.
– Você vem comigo – disse a mais alta e forte das figuras roxas, parecendo-me ser o líder deles, ou pelo menos algo próximo.
Ao momento que um deles me agarrou pelo braço eu fui novamente para aquele lugar vazio, porém, agora, com a companhia dos seres que em um desenho animado fariam o papel cômico.
Quando tateei novamente o chão, agora caindo de pé, estava num cenário que me lembrou meus tempos de universidade quando minha mente era fértil e eu era obrigado a ler livros complicados, no caso, A Divina Comédia, pois na minha frente tinha certeza que Minos, o rei de Creta e filho de Zeus, mesmo nunca tendo o visto, algo me dizia que era o mesmo lugar que Dante Alighieri descrevera.
Mesmo conhecido de justo ele apenas me olhou, diretamente nos meus olhos, como se visse não só minha alma, mas todos os pensamento que tive na vida. Fez uma careta e bateu o martelo que segurava na tábua, exatamente como os juízes do mundo real fazem.
“Tunch-Tunch-Tunch-Tunch-Tunch-Tunch” gritava meu coração, sem parar, alertando-me do perigo que me esperava e que a face impenetrável de Minos confirmava.
Tentei escapar com um movimento brusco idiota, mas me esqueci o modo que tinha chegado, sem usar uma porta, logo bati de cara na parede, sem achar a saída, desmaiando logo em seguida.
Quando voltei a mim – se é que algum momento eu já tinha chegado a isso desde o começo da história que lhes conto – estava preso entre cinco correntes pretas extremamente grossas que prendiam minha cabeça, pernas e braços, cada segurada por um daqueles guardas.
Fraco e desorientado, quase desmaiei novamente, mas resisti, infelizmente, a tal força que pretendia tomar conta de minha consciência novamente.
Vaguei por uma caverna que se apertava com o passar da trajetória, como fosse um cone, novamente, exatamente como narrado na Divina Comédia, além dos gritos de sofrimento que cortavam minha alma, aonde quer que ela estivesse.
Arrastado com agressividade pelos guardas, que pareciam gostar do meu sofrimento uma lembrança se fez que fosse mostrado um sofrimento maior que o físico, aquele que magoa a mente e faz o coração falhar: uma lembrança.
Estava em uma casa enorme, uma festa, acho eu, minha visão estava embaçada, minha respiração ofegante e havia um gosto de lágrima na minha boca, estava chorando, porém não sabia o motivo ainda.
Pessoas a minha volta expressavam as mais diversas emoções e ações desde a famosa pena até o humilhante ato de apontar e rir.
Após tal voltei ao meu estado normal. A lembrança tinha acabado e eu só havia ficado mais confuso. Estranho como a única memória dos meus últimos dias era a da faca em meu pescoço seguida da dor.
O cheiro putrefato da comida decomposta do círculo da gula parecia afetar eles mais que a mim, pois eu, ao contrário deles, estava morto, a fome não me atingia e o círculo só penitencia a quem peca, então obviamente aquilo pegou as figuras roxas em cheio, no fim, eram mesmo monstros burros e cômicos.
Enfraquecidos pelo momento corri em busca ao monte de comida podre e o joguei neles, mesmo com difícil locomoção, graças às correntes e aquela toga que era não só desconfortável, mas também horrível para se mexer, sendo fácil tropeçar nela.
Corri buscando minha liberdade, mas não sabia onde estava, a sorte teria que jogar do meu lado.
Infelizmente, a fraqueza tomou conta de mim e cai no chão, cansado.
Quando minha visão embaçava e eu me preparava para desmaiar vi uma figura, porém já não conseguia mais definir as coisas direito, era uma figura branca de cabelo grande, não sabia mais nada, ouvi um tambor rufar e ela se aproximar de mim, depois não lembrava mais de nada, mas o tambor já era a introdução de mais uma memória.
Corria, minha respiração estava cada vez mais ofegante e minha barriga doía como quando corremos muito, mas não tinha ido longe, ainda estava na festa, meu estilo nerd de vida não me deixaria ir longe, porém fui ao pior lugar o possível.
Mesmo nunca tendo usado realmente drogas – apenas fingi tragar maconha uma vez para impressionar uma menina – eu conseguia sentir os cheiros que sem dúvidas eram tais no ar, mas o pior é quem estava no meio e o que ela fazia.
Luciana, quem era para ser minha namorada há, aproximadamente, três meses, estava se agarrando em delírios com um qualquer, as lágrimas voltaram ao meus olhos.
Voltando ao mundo que parecia ser a Divina Comédia eu havia saído dos Círculos do Inferno, agora estava no que parecia ser uma cidade.
Não era a mesma cidade, aqui era diferente. Não era belo e conservado como o outro local, aqui estava em ruínas. Talvez fora uma cidade semelhante àquela que visitara, mas hoje ele me dava mais medo que os Círculos do Inferno.
Uma mão fria pegou levemente no meu ombro, dando-me um calafrio que percorreu todo meu corpo.
Tentei correr para fugir da figura que me agarrava, mas eu me sentia paralisado com a força que a mão dela passava, quase como se uma corrente elétrica passasse por mim, mas ao contrário da dor que seria gerada eu sentia uma incrível sensação de bem estar, algo que não sentia desde a minha infância.
Olhei para trás com medo do que eu veria, mas toda e qualquer preocupação sumiu vendo aquele rosto. Mesmo nunca tendo a visto antes senti uma sensação única de fraternidade, quase como se ela fosse algum familiar muito querido.
– Quem é você – perguntei em gaguejos esganiçados causados pelo medo.
– Não tenho nome, sou só um anjo.
– E o Anjo Gabriel? – perguntei em um tom desafiador que poderia me dar más conseqüências.
– Puramente ilustrativo, nem sexo os anjos tem quem dirá um nome definido.
Percebi que ela não abria a boca ao falar, quase como aqueles homens que falam por bonecos, mas decidi não falar nada, pois há muita coisa nesse mundo novo que eu nunca sequer imaginei.
– Desculpe me intrometer, mas você não devia deixar os demônios cuidar de mim?
– No mundo de vocês existem várias religiões, todas existem e se concentram em determinados lugares que partem através da parte central, que é onde você acordou, porém, a religião pregada por Minos e seus amigos está em desuso, uma religião em desuso, sem almas, morre, assim como tudo relacionado a ela, então eles pegam outras almas.
Segui sem dizer nada, não sabia onde estava e duvidava que o próprio anjo soubesse, apenas vagamos em um lugar provavelmente distante dos Círculos do Inferno e dos monstros roxos.
Incrivelmente fraco pelo sol da cidade fantasma, que me cansava de um modo inexplicável, mais imagens entravam em minha mente.
Porém agora não eram mais lembranças.
Enquanto caia o anjo olhava para mim e sumia gradativamente, provavelmente se tele transportava, entretanto eu não sabia para onde.
Acordei num hospital a dor extrema tomava conta de mim, o sono também, mas não conseguiria dormir com a imagem que tomava conta de mim, minha namorada olhava para mim, arrependida, mas eu não sabia direito do que, o mais perto que eu cheguei de lembrar foi ela estar numa possível boca de fumo no que era para ser uma festa onde fui humilhado.
O que um medo indescritível brotar em mim foi o fato de que ao meu lado direito o médico ser um velho de barba, cabelos cacheados idêntico à Minos e a enfermeira uma bela loira de rosto e corpo delicado, pele branca e de olhos azuis, exatamente como o anjo que me tirara dos Círculos do Inferno.
Não, eu não morri em dias próximos daqueles, foram anos após tal, mas meus últimos dias de vida, causados por um acidente de carro enquanto fazia uma de minhas caminhadas diárias, foram acompanhados por eles, sem terem envelhecido um dia sequer.
Antes de morrer a minha enfermeira-anjo falou em meus ouvidos que Lúcia me esperava caso escolhesse seu lado.
Fim

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