Willian Hurt é um vigarista que se aproveita do tal juizo final que parece estar chegando e cria sua propria religiao em busca de tirar dinheiro de vilas pequenas e isoladas, esperando alguem com fala dificil e uma historia bonita e esperançosa para eles acreditarem, porem Hurt nao contava que uma dessas vilas isoladas fosse isolada por um motivo tenebroso, que estava adormecido nas profundezas, apenas esperando que ser acordado e recomeçar a destruiçao que havia começado.
Esse monstro esperava apenas que molhassem o solo para despertar algo que ficou preso como castigo por quase ter provocado o fim do mundo ha muito tempo. Um segredo que so os habitantes dessa cidade sabiam...
Esse monstro esperava apenas que molhassem o solo para despertar algo que ficou preso como castigo por quase ter provocado o fim do mundo ha muito tempo. Um segredo que so os habitantes dessa cidade sabiam...
Estamos perto do que muitos acreditam ser o apocalipse – só porque um bando de seres antigos previu que ia haver uma nova era ou o fim do mundo em 2012 – e essa é a época de se abrir religiosamente para tudo para que possamos ir para o céu e sejamos perdoados por décadas de “pecados” fazendo o que certos livros sagrados não deixavam.
Por Deus – um trocadilho infame por minha parte –! Tenho certeza que essa é a época de se aproveitar. De tirar uma casquinha de pessoas que estão abertas só para ganhar dinheiro.
Ligue a TV, passe por 100 canais – se você tiver 100 canais na sua TV – e me diga que não tem nenhum programa religioso ou que esteja discutindo religião. Certamente, se você me disser isso, estará mentindo para mim.
Willian Hurt é um desses grandes vigaristas que passa por aí. Ele é um “missionário” que perambula por cidades pequenas, falando de algo que, teoricamente, é um monstro antigo vindo da mente dele.
Não posso criticar a criatividade dele. Ele fez uma mitologia inteira, um livro sagrado e até uma explicação para nunca terem ouvido falar do tal deus dele, provando com fotos ter tido visões sobre aquilo. Você pode achar que ninguém cairia nisso, mas é tudo uma questão de infraestrutura. Se pegarmos uma cidade isolada do mundo não precisaremos dessa tal infraestrutura, assim como tantas religiões não precisaram no passado.
Quem sabe Hurt de um golpe de sorte e ganhe um programa de TV para aumentar a grade religiosa de um desses 100 canais na sua TV que falam de religião? Bem, esse é o grande sonho dele.
Até agora falamos do comum, do nada extraordinário e de um homem que deve ter milhares iguais espalhados pelo mundo, mas aí que está a graça das brincadeiras do destino, quando um homem “comum” recebe uma dose de eventualidades fantásticas em sua vida.
Nosso objeto de eventualidades fantásticas dessa vez é Hurt enquanto viajava na sua missão de trazer a palavra do poderoso Nyksu para as vilas pequenas e que há muito foram riscadas do mapa.
Não me pergunte o nome dessa cidade ou sua localização, pois acho que nem os moradores daquela vila sabem.
Hurt havia chegado numa manhã muito quente nessa vila – que ele gosta de chamar de 30° Cidade dos Otários –, sempre com seu inseparável livro sagrado que ele escreveu numa tarde de domingo regada a muita cerveja, quando ele ainda era um pobre comerciante que ainda não tinha sido “iluminado”.
As casas eram todas rústicas, feitas apenas de tijolos, pequenas, sem nenhum luxo e sem muitas delas espalhadas pela cidade. O cenário era perfeito, um pequeno grupo de pessoas sem muitas riquezas e, pelo que denunciava o chão, que enfrentavam uma seca enorme, estavam ali, vivendo suas vidas, numa provável vida sofrida e sem esperanças, só aguardando Hurt tirar as poucas riquezas que elas tinham em troca de alguma esperança.
Nunca havia passado na cabeça dele porque uma cidade isolada do mundo é isolada do mundo, pois às vezes meu caro leitor há um motivo e o da 30° Cidade de Otários faria Hurt querer voltar a ser um pobre comerciante.
Assim que ele chegou à cidade subiu num lugar alto, tirou um megafone da mochila verde que carregava nas costas e começou seu culto:
– Sim meus amigos! O dia está chegando! E só Nyksu pode salvá-los! Pois só a força dele salva...
Antes que ele se desse conta, 50 pessoas – o que seria um pouco mais da metade da cidade – vieram vê-lo um tanto quanto perplexos.
Ele deu um sorriso discreto e em seguida tirou um frasco de água do bolso e pulou desse lugar dando um salto perfeito, digno de nota 10:
– E é com o poder de Nyksu que abençôo essa terra e seus moradores para muito além do tal juízo final – disse ele com aquela entonação e movimento de todo pastor de TV à la Silas Malafaia e no fim derramando o líquido da garrafa na terra.
Maldita hora que ele fez isso, meus amigos. Nesse exato momento, aquela água liberou o motivo da cidade ser isolada do mundo...
– Seu imbecil! – gritou um morador que estava no meio da multidão. Hurt não conseguiu vê-lo, mas a voz dele era rouca como a de um velho castigado pelas doenças que a idade lhe trouxe.
Todos que estavam em volta dele ficaram com a expressão aterrorizada, não conseguindo crer no que aquele estranho tinha acabado de fazer...
Todos correram em seguida, não dando tempo de Hurt sequer entender o que ele fez de errado e muito menos de pedir o dízimo para os habitantes do local.
Ele saiu de mansinho da cidade, temendo que os habitantes dela re aparecessem com tochas atrás dele, mas, não adiantaria o estrago, já estava feito ELE tinha acordado e ELE perseguiria nosso falso iluminado até o fim do mundo se necessário...
Algumas vilas depois, Hurt recebeu o primeiro sinal de que ELE tinha acordado e que ELE o queria:
Willian estava em uma cama confortável cedida pelo prefeito da 36° Cidade de Otários – a qual era a maior das cidades que ele tinha visitado até agora para pregar e que era consideravelmente ligada com o mundo – que tinha ficado emocionado com o culto, chegando até a chorar em determinadas partes, mas isso não é importante, o importante é o que aconteceu quando ele estava dormindo naquela cama, quando ELE se comunicou com ele pela primeira vez.
No sonho ELE estava sob a forma do que Hurt imaginava ser Nyuksu, que sendo descrito seria algo próximo de um homem extremamente branco, careca, magro, com a altura de 30 metros, com asas de anjo e um olho na palma de mão, que de acordo com a mitologia criada por ele seria para observar as atitudes dos mortais para um julgamento justo na hora do Zeskchi – que seria traduzido da língua sagrada, ou seja, a língua que apenas os deuses e os iluminados conheciam, para o português como o Juízo Final.
– Você me libertou humano, dou-lhe o mundo como quiser e quando quiser, pois tu deste-me a água que deu acordou-me dos sonhos feito pelos antigos magos – disse ELE.
ELE estava sentado num trono proporcional a sua altura de 30 metros, enquanto nosso pregador vigarista estava de joelhos num chão todo rachado, como se estivesse num lugar onde não chovia há seis meses ou mais. Além do trono e do chão havia um céu totalmente vermelho para completar a paisagem de um cenário totalmente apocalíptico.
– Você devia estar falando a língua dos sagrados, não? – perguntou ingenuamente Willian.
ELE deu uma risada profunda, algo que explicaria um terremoto de sete pontos na escala Richter, e em seguida se explicou:
– Apenas se tu quiseres humano, mas não sou aquele que tu chama de Nyuksu e que habita a sua mente e apenas ela... – disse ELE, que após uma respiração profunda, se aproximou de Hurt e continuou – mas se você quiser tudo pode ser real.
O sonho era muito real para apenas ser um sonho, além de que nosso protagonista nunca tinha conseguido falar o que pensava – e nem sequer pensar num sonho –, mas aquilo era fantástico e ilógico demais para ser real.
– O que é você?
– Eu sou tudo que quero ou que tu queiras, mas não tenho nome e minha forma não é de conveniência para a visão dos humanos, mas já fui apelidado por muitos, alguns me chama de pesadelo, outros de anjo e alguns de demônio, mas são só apelidos, meu nome no momento também é de sua escolha, pois tu és meu mestre. E como me referi antes, tudo o que queres é seu, basta me pedir.
Hurt, mesmo ainda incrédulo sobre a veracidade de seu sonho, olhou para o seu novo amigo de 30 metros que estava sentado no trono proporcional com um notável brilho nos olhos, como uma criança pequena que acaba de ver Papai Noel entregando seu sonhado pônei, mas claro – na verdade, Willian até pensou num pônei por um trauma resultado num sonhado presente que nunca ganhou –, ele queria mesmo eram duas coisas:
1° Ser um rico pastor da religião que inventara, com direito a programa de TV em horário nobre.
2°Que sua mitologia fosse real a ponto de sua religião superar qualquer outra já criada, mas inofensiva a ponto de algumas previsões do Livro de Nyuksu – a Bíblia da religião que Hurt carinhosamente apelidou de: encaminhados – não se tornarem reais.
Então com uma voz um tanto quanto rouca ele pediu as duas coisas, exatamente como descrevi. Em seguida, ele acordou, se decepcionando por acordar na cama que o prefeito da 36° Cidade dos Otários cedeu.
Nesse exato momento você pode estar achando que foi só um sonho ou uma mensagem do que ainda estaria por vir, mas não, ELE se comunicaria com ele só por sonhos por enquanto, pois ele tinha seus próprios motivos, mas não acho que seria conveniente revelá-los agora, ainda mais com uma história, em minha opinião, mais interessante se iniciando com Hurt.
O destino de Hurt mudou no Kashar da 36° Cidade dos Otários – basicamente o ultimo culto, mas se formos conferir no livro de Nyuksu seria algo como o culto de salvamento antes do Zeskchi, para garantir que todas as almas fossem para o paraíso.
Um produtor de uma emissora de TV estadual – porém afiliada da segunda maior emissora do país–, estava nos arredores da cidade fazendo uma reportagem sobre a pobreza das pequenas cidades do estado e por coincidência, de um destino manipulado por ELE, esse produtor estava vendo o Kashar de Willian à reação não podia ser outra. Nosso vigarista era um filho da puta, mas tinha o carisma de um presidente, logo ele iria subir na vida. A hora tinha chegado.
O palco de apresentações de Hurt nessa cidade não era nada modesto – pois desde os acontecimentos da 30° Cidade dos Otários ele vem pedindo primeiro a permissão do prefeito e depois tenta chegar ao acordo de emprestar algum lugar –, era a maior arena da cidade, devia ter espaço para umas 500 ou 600 pessoas – o que devia ser cerca de 25% da população da cidade – e tinha uma iluminação digna de um show de rock, cheio de refletores, luzes coloridas e até uma dúzia de fogos de artifício, tudo coberto por um teto redondo de um material que Hurt desconhecia, porque isso nunca foi importante. Ele não costumava ser do tipo detalhista.
Lembram-se daquela água que Willian havia jogado na terra seca da 30° Cidade dos Otários – e que, consequentemente, acordou ELE –? Bem, ele agora não fazia mais aquilo, mas não por medo de mais alguma revolta, mas sim por uma nova invenção para seu culto, bem ao estilo emo, diga-se de passagem. Cortar os pulsos, declamando que aquela era a terra que um iluminado abençoou com seu sangue e suas lágrimas – Hurt era sensibilíssimo a dor, logo não era um desafio chorar com um corte que pingava sangue –. Esse era o momento que conquistou o produtor da emissora estadual – isso e ELE –. Agora a escalada em busca da fama absoluta começaria. Ele estava começando a caminhar pelos degraus, mas como sabem, no primeiro degrau de uma enorme escadaria não vemos vários metros que te separam do chão e você não esta cansado, desmotivado pelo andar de cima, que essa escadaria leva, não parecer tão interessante, mas Hurt não se contentaria a parar no meio, ele continuaria mesmo se isso custasse a ele um ataque cardíaco – ou o fim do mundo.
Hurt sonhou com aquele momento umas quatro vezes, mas só como um degrau mesmo, pois o que ele sonhou milhares de vezes era o seu programa na TV como pastor, porém Willian teve suas expectativas excedidas no momento, justamente por não sonhar com elas e no fim ser uma felicidade que não se espera – ou nesse caso até se esperava, porém ele estava convicto que tinha sido só um sonho então achou melhor esquecer.
Ele esta suando como um porco, o seu terno preto vagabundo estava com manchas enormes debaixo do braço, de algum modo, ele sabia o que lhe esperava.
– Senhor, estava vendo o seu culto... Que coisa maravilhosa! Fiquei bestificado com a cultura, com os detalhes, com a história. Nunca tinha ouvido falar de nada disso – disse o produtor de TV.
A animação dele era realmente real e visível, como um cristão que é convidado a conhecer Jesus – desculpem-me, não sou bom com exemplos, mas diante do tema da história esse foi o exemplo mais viável que passou na minha cabeça.
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